Confira na íntegra a homilia de Dom Gilson Andrade da Silva - Bispo da Diocese de Nova Iguaçu, na ocasião da Ordenação Sacerdotal de Frei André da Apresentação, IFE.
Ordenação presbiteral – Frei André da Apresentação, IFE
Saudações!
Estamos vivendo com alegria e esperança o 3º Ano Vocacional na Igreja no Brasil. E esta celebração de ordenação presbiteral é um presente que o Senhor da Messe nos concede para vivermos ainda com mais intensidade a graça deste ano, alegrando-nos com o dom que Nosso Senhor concede a este nosso irmão em favor do seu povo santo.
A vocação é o que dá sentido à vida, aquilo para o qual Deus me pensou. Na Mensagem para o 60º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (amanhã), o Papa Francisco nos recorda que o chamado de Deus, está “inscrito nas fibras do nosso ser” e é “portador do segredo da felicidade”. Portanto, não há felicidade duradoura sem a resposta generosa ao chamado de Deus, uma resposta que se dá uma vez na vida e se retoma todos os dias, nos apelos que a vida mesma se encarrega de nos fazer. Todos os dias somos chamados a responder aos pequenos toques que Deus nos dá para atualizar a nossa resposta. Por isso, a resposta diária à vocação favorece uma juventude que não passa, mesmo que os anos enruguem a pele e diminuam nossas forças.
Fr. André, antes do encontro com os Frades de Emaús, pensava que já teria encontrado o caminho da felicidade no plano concreto que tinha de se casar. No entanto, aquele encontro lhe fez perceber que o seu coração andava inquieto e que apenas uma coisa fazia “arder seu coração”: a possibilidade de doar a vida toda a Deus e, assim, colocar-se inteiramente a serviço dos seus irmãos e irmãs, na vida consagrada e no serviço específico daqueles que recebem o chamado à vocação sacerdotal.
Hoje, ao receber da Igreja a confirmação de sua vocação ao sacerdócio ministerial, Cristo o toma totalmente para si. Bento XVI lembrava certa vez que com o gesto da imposição das mãos, “Ele (Cristo) tomou posse de mim, dizendo-me: ‘Tu me pertences’. Mas com isto disse também: ‘Tu estás sob a proteção das minhas mãos. Tu te encontras sob a proteção do meu coração. Tu estás conservado na palma da minha mão e é precisamente assim que te encontras na vastidão do meu amor. Permanece no espaço das minhas mãos e dá-me as tuas" (Homilia, 13 de abril de 2006)
Cristo o toma para si, Fr. André, para que unido a você Ele possa continuar se doando aos irmãos e irmãs, especialmente aos pobres de tantas pobrezas, como aquelas que no nosso mundo hoje se multiplicam.
Lembre-se de que pela unção sacerdotal Ele o torna capaz (e você deve se comprometer também – e este é o sentido das promessas que fará daqui a pouco) de ser sinal do amor do Bom Pastor para com as ovelhas de Cristo.
No belo discurso do Bom Pastor, que lemos um trecho no Evangelho da Missa, o Senhor oferece a você e a nós pastores do povo, um programa para vivermos aquela transparência do amor que amou até o fim. Este programa se resume no lema (belo e exigente) a que você se propôs: “Dou minha vida pelas ovelhas”.
O ofício do pastor é um serviço autêntico, diferentemente do mercenário que só quer saber tirar proveito das ovelhas e buscar seu próprio interesse.
Jesus é Bom Pastor porque o amor que tem pelas suas ovelhas o leva ao sacrifício supremo. É o pastor que luta e morre para preservar a ovelha. Ama suas ovelhas com um amor único, semelhante ao que o une ao Pai, e é por este amor que lhes oferece o supremo sacrifício. Não há exercício do ministério sacerdotal sem oferta de si, sem sacrifícios. Na vida do Padre há dores, suas dores são as dores das ovelhas, de tal modo ele está identificado com elas, através do trabalho pastoral, que lhe é impossível ficar indiferente diante dos sofrimentos do Povo.
Neste contexto Ele é chamado a viver sua missão exclusiva, única e insubstituível que é aquela de “exercer em nome de Cristo e publicamente o ofício sacerdotal, em favor da humanidade” (Homilia do Pontifical Romano).
“Configurado ao Cristo, sumo e eterno sacerdote, unido ao sacerdócio dos Bispos, será consagrado verdadeiro sacerdote da nova Aliança para pregar o Evangelho, apascentar o povo de Deus e celebrar o culto divino, principalmente no Sacrifício do Senhor”. Deste modo concreto, o Padre realiza a missão que no dia de sua ordenação lhe é confiada, à imagem do Bom Pastor. Como Pedro ele pode dizer: “ouro e prata eu não tenho, mas o que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda” (At 3, 6). Aquilo que o Padre pode oferecer através do seu ministério é o que há de mais essencial para que a vida seja abundante. A riqueza do Padre é sua fé em Jesus Cristo e sua missão de ser Cristo presente que anuncia a Boa Nova e, com o seu amor, vai ao encontro das pessoas para oferecer-lhes o que só Cristo pode lhes dar.
Além disso, o amor do Bom Pastor não se aplica só ao pequeno rebanho daqueles dos que acreditaram em sua palavra, mas se dilata a todos aqueles que ele veio buscar e salvar. Toda vocação cristã é essencialmente missionária, mas especialmente é missionária a vocação do Padre. Ele deve ser o primeiro a promover na Igreja uma ação missionária continuada. A missão deve chegar a ser o paradigma de tudo o que fazemos, pois sempre haverá os que não estão no redil. A oferta de vida do Bom Pastor é para reunir a todos.
“Peçamos ao Senhor da messe que mande trabalhadores. A messe é grande e poucos os ceifeiros” (Mt 9,37-38). Peçamos a Deus que os jovens ouçam o chamado de Cristo para segui-lo. Rezemos para que as famílias sejam lugares onde germinem e floresçam as vocações. Que as crianças aprendam em casa a viver a doação, para responder generosamente ao chamado de Deus.
Um Padre da Igreja dizia: Senhor, apascenta-me e apascenta comigo!
Sob a materna intercessão de Maria, o seu ministério seja vivido a seu exemplo, numa dedicação alegre e discreta, mas total.
29 de abril de 2023
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